Você é uma pessoa ciumenta?
Não adianta mentir, seus amigos sabem a resposta (e seus ex-namorados também rs).
Ciúme. Esse é um daqueles assuntos clássicos de mesa de bar que a gente sabe que hora ou outra vai aparecer, seja porque alguém foi traído (ou tá sentindo o par de chifres começando a nascer), seja porque alguém está traindo, ou seja porque alguém tá se queixando do ciúme alheio. A verdade é que esse tema pode surgir de muitas maneiras, e por mais que já tenha se tornado um grande clichê das discussões modernas (e clássicas também), ele ainda rende muita conversa.
Mas antes da gente entrar na parte mais densa da discussão, eu queria começar te perguntando: você é uma pessoa ciumenta?
Eu não sou. E não é papo de “pessoa evoluída” não, tá? Eu realmente não sou ciumento. E isso soa engraçado até pra mim mesmo, porque eu sou muito egoísta, e me parece um pouco contraditório pensar que uma pessoa egoísta não seja ciumenta, mas cá estou eu, a contradição em carne e osso (geminiano né?! 🤷🏽♂️).
Inclusive, há pouco tempo atrás eu tava refletindo sobre essa minha “falta de ciúme” e cheguei à conclusão de que talvez parte disso seja porque eu sou filho único (ao menos da minha mãe, com quem eu fui criado), o que significa que durante a minha infância e adolescência, quando nossos vínculos familiares são muito mais fortes, eu nunca precisei dividir a atenção da minha mãe com outra pessoa. E hoje, fazendo uma leitura do comportamento de várias pessoas à minha volta, eu vejo como em muitos casos esse sentimento de ciúme surgiu ali, dentro de casa, entre irmãos. Não atoa, vez ou outra nos deparamos com aquela discussão de “filho preferido” (isso rende assunto pra uma outra newsletter, podemos falar sobre isso futuramente 😝).
Mas agora, fugindo um pouco do “ciúme familiar” (se é que posso chamá-lo dessa maneira), precisamos falar sobre o ciúme romântico, que geralmente é a vertente mais presente nas conversas populares.
Vocês sabiam que, segundo o pesquisador Gary Brase, da Universidade de Sunderland, na Inglaterra, o homem brasileiro é considerado o mais ciumento do planeta? Pois é, ta passada?! Eu não tô! E sabe por que? Vamos fazer um exercício: quantas vezes você já se deparou com histórias de pessoas que foram traídas? Exato, muitas! Essas experiências não costumam ser agradáveis (talvez até certo ponto, mas sempre acaba dando merda), logo, é natural e compreensível que as pessoas sintam medo de passar por essa situação, e é muitas vezes daí que surge esse sentimento.
O pesquisador e filósofo Fabiano de Abreu fala o seguinte sobre o ciúme:
Quando pensamos em ciúme, pensamos em insegurança, carência, medo de ficar sozinho e de colocar em prova a moral do indivíduo. Mas para mim, o ponto mais importante para o brasileiro ser o povo mais ciumento segundo a pesquisa é devido a sua cultura promíscua.
Ou seja, o adultério é tão comum dentro da nossa sociedade que o ciúme passa a ser um sentimento comum entre as pessoas, quer elas estejam em um relacionamento recente ou não. É como se estivéssemos o tempo todo esperando que nosso parceiro pulasse a cerca e nos decepcionasse.
Mas aí eu te pergunto: e se a gente abrisse a cerca? (essa analogia ficou muito boa, fala sério?!!). Ou melhor, e se a gente construísse relações que não precisassem de cercas? 🤔 Esses são questionamentos importantes e que devem ser feitos pra que a gente possa repensar as nossas relações, os pactos sobre os quais essas relações são construídas, e até que ponto tudo isso normaliza o ciúme como um sentimento inevitável dentro dos relacionamentos modernos.
E já que a gente está falando sobre ciúme como sentimento, trago aqui a definição da palavra:
Ciúme: estado emocional complexo que envolve um sentimento penoso provocado em relação a uma pessoa de que se pretende o amor exclusivo; receio de que o ente amado dedique seu afeto a outrem;
A gente pode levar a discussão pra vários pontos a partir dessa definição, mas eu quero me apegar a duas palavras: sentimento penoso. Toda vez que esse assunto surge em alguma conversa, sempre tem alguém que classifica o seu ciúme como “aquele que não faz mal”, ou então como um “ciúme saudável”, e isso me soa muito contraditório, porque como pode um sentimento penoso, de medo, que nos causa insegurança, ser algo que “não faz mal”? Não faz mal pra quem?
Quando a gente fala sobre ciúme é muito comum pensarmos nas consequências desse sentimento. A gente sempre fala sobre como isso afeta a outra pessoa, sobre como, em muitos casos, isso cria situações desagradáveis (e as vezes violentas) para o outro. Mas e quanto nós? Por que a gente não fala sobre quem está sentindo? Por que a gente não busca entender o motivo desse sentimento?
Voltando para a definição do dicionário, o ciúme envolve um sentimento penoso mas, acima disso, ele é um estado emocional, e esse estado tem a ver conosco, não com o outro.
É por isso que eu não acredito que exista “ciúme saudável”, e é por isso que a gente precisa urgentemente parar de romantizar esse sentimento. Não faz sentido nós nos sentirmos bem ao saber que alguém sente ciúmes da gente sendo que isso significa que, na verdade, essa pessoa só está com medo e insegura de si mesma. O que tem de romântico nisso?
Pra concluir, deixo uma última reflexão: ao longo de toda essa conversa nós não falamos de amor. Ou seja, ciúme não envolve amor, assim como amor não precisa envolver ciúme 😉.
Pega a visão 📝:
A indicação que eu deixo essa semana é o episódio “Ciúmes”, do podcast “Acenda sua luz”. É um episódio super curtinho, com apenas 9 minutos, no qual a Carol Rache traz uma reflexão interessante sobre como o ciúme está atrelado à nossa insegurança e porque não devemos considerá-lo um “tempero do amor”.
Um beijo e até semana que vem 💛💙
Essa mesa de bar só tem papo bom 😮💨🫶🏽
Todos falam que escorpianos são ciumentos e cá estou eu pra quebrar isso, não sou nada ciumento, sou desconfiado isso sim, minha sexto sentido nunca falha hhahahaha